Ao som dessa torcida sem igual
A previsão do tempo para o dia 6 de dezembro de 2009 no Rio de Janeiro era de céu encoberto com pancadas de chuva, mas o dia amanheceu com céu claro e muito calor. Diz a sabedoria popular que essas previsões sempre costumam falhar. A mesma sabedoria que diz que matemática e futebol são duas coisas que não combinam. Imaginem vocês que faltando cerca de dez rodadas pra terminar o Campeonato Brasileiro os frios números indicavam que dois times do Rio tinham em torno de 1% de chance de conquistar seus objetivos. O Flamengo de chegar ao título, o Fluminense de escapar do rebaixamento. Perguntem a qualquer torcedor apaixonado se ele deu ouvidos a isso.
O Rio acordou vestido de vermelho e preto. Não me lembro da última vez que vi algo assim. Ainda não era 2 da tarde, três horas antes do horário marcado para a última partida do ano, e o Maracanã já estava praticamente lotado. Onde quer que se passasse, as camisas rubro-negras pareciam traje obrigatório.
Eu não dormi. Não dormia direito há dias, mas essa noite em especial. Os minutos não passavam e a proximidade da batalha final me deixou num estado quase que incontrolável de nervosismo. Quando parti rumo ao Coliseu do futebol meu coração palpitava no peito com a certeza de que estava vivenciando um momento histórico. Me aproximar do maior estádio do mundo e ver a multidão que o rodeava foi de arrepiar a alma.
Lá dentro a festa era a esperada. É senso comum que times de futebol têm torcidas, mas que o Flamengo é uma torcida que tem um time. A energia que emana das arquibancadas lotadas por essa Nação é algo que nem o mais avançado médium saberia explicar. É mitológico. O que eu posso atestar de concreto é que o estádio tremia a cada explosão conjunta dessa força da natureza.
Na hora marcada os gladiadores vieram a campo. Homens predestinados a honrar um manto sagrado capaz de assustar as mais temidas criaturas, de transformar o mais frágil dos seres humanos num atroz caçador de bestas assassinas. A catarse começou.
Muita gente acreditava que a missão não seria das mais difíceis. Derrotar um desmotivado adversário que ainda poderia, com um empate ou vitória, ajudar seu mais odiado rival. Mas nenhum dos rubro-negros do mundo se deixou enganar. Quem é Flamengo sabe desde o berço: nada, nunca, é fácil quando se trata das nossas maiores conquistas.
E não poderia ser diferente. Enquanto o jogo ainda tomava forma, enquanto cada personagem daquela disputa ainda encontrava sua função na trama, num despretensioso escanteio, surge um pé dentro da pequena área que empurra a bola pra dentro do nosso gol. 1x0 pros vilões.
O silêncio era sepulcral. O maior estádio do mundo lotado pela maior torcida do mundo estava calado. Seria possível escutar o suspiro de alguém lá do lado de fora. Enquanto isso o placar eletrônico começava a indicar o temido: em outros cantos do país os adversários faziam sua parte e o título começava a escapar.
A equipe nervosa, como não poderia deixar de estar, partiu pra cima como conseguia e a torcida clamava por raça. E foi assim, na vontade, numa disputa de corpo, que a bola sobrou pra David, um jovem zagueiro perdido na área adversária, soltar um petardo em direção ao gol e empatar a partida. 1x1 e esperança renovada. Faltava um. Um golzinho pra consagração final.
A torcida urrava, roia as unhas, tremia, chorava... O segundo tempo começou e nada do jogo desencantar, o adversário, como sempre acontece com quem chega ao Maracanã contra o Flamengo, queria complicar. O tempo urgia, o desespero aumentava, a aflição parecia que não teria fim, até que, de repente, numa bola alçada a área pelo maestro Petkovic, surge mais alto que Deus o mais fiel retrato do brasileiro que deu certo: Ronaldo Angelim, nosso zagueiro esquerdo, um homem que a humildade e perseverança servem de inspiração de operários a poetas, testou a bola de forma fatal e entrou pra História.
A explosão de alegria que tomou conta da multidão daí em diante é algo que nenhuma palavra que eu possa usar para descrever jamais será fiel ao fato. A angústia perdurou até o apito final que consagrou aqueles bravos jogadores e seu bravíssimo comandante Andrade, um homem digno e trabalhador, competente e consciente, verdadeiro e pé-no-chão, rubro-negro de coração, como campeões brasileiros.
Foi o sexto título nacional conquistado pelo Gigante rubro-negro, que parecia adormecido e de repente resolveu acordar pra se alimentar de alguns leões. Não poderia ter sido melhor, não poderia ter sido diferente, não poderia ter sido de mais ninguém. A profecia diz que, crenças à parte, o Flamengo existe para conquistar e dominar. E assim foi feito.
2009 é um ano que ficará para sempre na minha memória. A felicidade que senti ontem é algo que não tem explicação, não tem dimensão, e, graças a Deus, não tem cura. É a felicidade suprema de ser Flamengo. De fazer parte desse acontecimento que une seres das mais diferentes origens, classes sociais, crenças, ideologias, todos num só desejo maior: o de gritar “gol!”. Hoje o mundo está mais équiça do que nunca.
Autor: Pedro Neschling
http://bloglog.globo.com/pedroneschling/
Coloquei esse texto aqui porque ADORO os textos do Pedro e neste ele traduz tudo o que gostaria de dizer sobre o jogo de domingo, mas me faltaram palavras.
Flamengo Hexacampeão Brasileiro.
O melhor presente de aniversário que ganhei na vida!
Muito orgulho de ser RUBRO-NEGRA!!!!
Naty Afonso.
Andando, o principezinho encontrou um jardim cheio de rosas. Contemplou-as...eram todas iguais à sua flor.
E deitado na relva, ele chorou...
E foi então que apareceu a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa. Não me cativaram ainda.
- Que quer dizer "cativar" ?
- É uma coisa muito esquecida. Significa criar laços...Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. Eu não tenho necessidade de ti e tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas se tu me cativas, teremos necessidade um do outro. Serás para mim, único no mundo. E eu serei para ti, única no mundo. Minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. O teu passo me chamará para fora da toca, como se fosse música. A gente só conhece bem as coisas que cativou.
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal- entendidos. Cada dia te sentarás mais perto...Se tu vens por exemplo, às quatro da tarde, desde às três, eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Assim o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar...a gente corre o risco de chorar um pouco, quando se deixou cativar. E acrescentou:
- Vai rever as rosas. Tu compreenderás que a tua, é a única no mundo. É simples, o segredo: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos. Foi o tempo que perdeste com tua rosa, que fez tua rosa tão importante. Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Tu és responsável pela rosa ...
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar...
Os homens do teu planeta, disse o principezinho, cultivam cinco mil rosas num mesmo jardim...e nunca encontram o que procuram...E no entanto, o que eles buscam poderia ser achado numa só rosa , ou num pouquinho d'água...Mas os olhos são cegos. É preciso buscar com o coração..."
(Antoine De Saint- Exupéry)